Thursday, August 25, 2005

Crónica de uma morte anunciada?


Pois é, como diz o nosso Miguel Sousa Tavares (alguém que sinceramente não gramo, mas que, tenho de admitir, escreveu um "Ecuador" que me surpreendeu francamante pela positiva e propiciou momentos de deleite, apenas bruscamente interrompidos por expressões como"só então realizei..." adaptado literalmente do realize ), o nosso país é uma desgraceira e não temos mesmo nada.
Não temos o petróleo dos noruegueses, nem os prados dos ingleses, nem as azeitonas de Espanha, ou a tecnologia japonesa (e agora também da adventista China). Mas o que temos e é (ou era) rentável são os pinhais e as serras. E, meus amigos, como tratamos aquilo que nos dá algum lucro? Não limpando os pinhais e florestas, não respeitando as indicações de protecção a incêndios, deculpando ou esquecendo os idivíduos ("Coitadinhos, bebem e estão desempregados.O que é que querem?") que incendeiam desenfreadamente um país inteiro...
Estaremos perante o fim de uma das maiores riquezas do país? Ou estarei eu, num raríssimo momento de pessimismo, a vaticinar a decadência total e irreversível de uma nação que cultiva a política do "laisser faire, laisser passer" ou "depois de casa arrombada, trancas à porta"?
Só quero estar enganada... Ai isso é que quero.

7 Comments:

At August 26, 2005, Blogger JMA said...

Para lerem tudo! E já ficam com uma ideia que, infelizmente, há muito lucro por trás dos incÊndios. Mas uma coisa é quase certa: a continuar assim não teremso florestas dentro de 10-20 anos. Aliás já existem imagens satélite (já as vi) que mostram já muitas cicatrizes causadas pelos incêndios. A vegetação verde estaá a desaparecer.
Também tenho conhecimento de que há pessoas que queimam de propósito para depois quando vierem as primeiras chuvas a erva ser mais tenrinha para o gado... náo me admirava nada.

Cá vai o enorme texto. Vale a pena ver:


A indústria dos incêndios


A evidência salta aos olhos: o país está a arder porque alguém quer que ele arda. Ou melhor, porque muita gente quer que ele arda. Há uma verdadeira indústria dos incêndios em Portugal. Há muita gente a beneficiar, directa ou indirectamente, da terra queimada. José Gomes Ferreira Sub-director de Informação



Oficialmente, continua a correr a versão de que não há motivações económicas para a maioria dos incêndios. Oficialmente continua a ser dito que as ocorrências se devem a negligência ou ao simples prazer de ver o fogo. A maioria dos incendiários seriam pessoas mentalmente diminuídas. Mas a tragédia não acontece por acaso. Vejamos:
1 - Porque é que o combate aéreo aos incêndios em Portugal é TOTALMENTE concessionado a empresas privadas, ao contrário do que acontece noutros países europeus da orla mediterrânica?

Porque é que os testemunhos populares sobre o início de incêndios em várias frentes imediatamente após a passagem de aeronaves continuam sem investigação após tantos anos de ocorrências? Porque é que o Estado tem 700 milhões de euros para comprar dois submarinos e não tem metade dessa verba para comprar uma dúzia de aviões Cannadair? Porque é que há pilotos da Força Aérea formados para combater incêndios e que passam o Verão desocupados nos quartéis? Porque é que as Forças Armadas encomendaram novos helicópteros sem estarem adaptados ao combate a incêndios? Pode o país dar-se a esse luxo?
2 - A maior parte da madeira usada pelas celuloses para produzir pasta de papel pode ser utilizada após a passagem do fogo sem grandes perdas de qualidade. No entanto, os madeireiros pagam um terço do valor aos produtores florestais. Quem ganha com o negócio? Há poucas semanas foi detido mais um madeireiro intermediário na Zona Centro, por suspeita de fogo posto. Estranhamente, as autoridades continuam a dizer que não há motivações económicas nos incêndios...
3 - Se as autoridades não conhecem casos, muitos jornalistas deste país, sobretudo os que se especializaram na área do ambiente, podem indicar terrenos onde se registaram incêndios há poucos anos e que já estão urbanizados ou em vias de o ser, contra o que diz a lei.
4 - À redacção da SIC e de outros órgãos de informação chegaram cartas e telefonemas anónimos do seguinte teor: "enquanto houver reservas de caça associativa e turística em Portugal, o país vai continuar a arder". Uma clara vingança de quem não quer pagar para caçar nestes espaços e pretende o regresso ao regime livre.
5 - Infelizmente, no Norte e Centro do país ainda continua a haver incêndios provocados para que nas primeiras chuvas os rebentos da vegetação sejam mais tenros e atractivos para os rebanhos. Os comandantes de bombeiros destas zonas conhecem bem esta realidade.

Há cerca de um ano e meio, o então ministro da Agricultura quis fazer um acordo com as direcções das três televisões generalistas em Portugal, no sentido de ser evitada a transmissão de muitas imagens de incêndios durante o Verão. O argumento era que, quanto mais fogo viam no ecrã, mais os incendiários se sentiam motivados a praticar o crime... Participei nessa reunião. Claro que o acordo não foi aceite, mas pessoalmente senti-me indignado. Como era possível que houvesse tantos cidadãos deste país a perder o rendimento da floresta - e até as habitações - e o poder político estivesse preocupado apenas com um aspecto perfeitamente marginal? Estranhamente, voltamos a ser confrontados com sugestões de responsáveis da administração pública no sentido de se evitar a exibição de imagens de todos os incêndios que assolam o país. Há uma indústria dos incêndios em Portugal, cujos agentes não obedecem a uma organização comum mas têm o mesmo objectivo - destruir floresta porque beneficiam com este tipo de crime. Estranhamente, o Estado não faz o que poderia e deveria fazer:
1 - Assumir directamente o combate aéreo aos incêndios o mais rapidamente possível. Comprar os meios, suspendendo, se necessário, outros contratos de aquisição de equipamento militar.
2 - Distribuir as forças militares pela floresta, durante todo o Verão, em acções de vigilância permanente. (Pelo contrário, o que tem acontecido são acções pontuais de vigilância e combate às chamas).
3 - Alterar a moldura penal dos crimes de fogo posto, agravando substancialmente as penas, e investigar e punir efectivamente os infractores
4 - Proibir rigorosamente todas as construções em zona ardida durante os anos previstos na lei.
5 - Incentivar a limpeza de matas, promovendo o valor dos resíduos, mato e lenha, criando centrais térmicas adaptadas ao uso deste tipo de combustível.
6 - E, é claro, continuar a apoiar as corporações de bombeiros por todos os meios.

Com uma noção clara das causas da tragédia e com medidas simples mas eficazes, será possível acreditar que dentro de 20 anos a paisagem portuguesa ainda não será igual à do Norte de África. Se tudo continuar como está, as semelhanças físicas com Marrocos serão inevitáveis a breve prazo. José Gomes Ferreira

 
At August 26, 2005, Blogger JMA said...

De certa forma, eles não vêem que serão também os prejudicados... o aspecto económico lucrativo e imediato é o que lhes interessa sem olharem para aquilo que realmente estão a fazer. Em breve, o tiro vai-lhes sair pela culatra, e que grande tiro vai ser!

Que se pode fazer? Cumprirmos as regras mais elementares quando se faz um piquenique, tentar lembrar aos mais novos (eles querem lã saber.. pelos vistos, isto de forma geral) sobre a importância das florestas. Agora quando se vai a qualquer sítio cá, há sempre zonas queimadas. Além da destruição, torna a paisagem verdadeiramente desoladora. Indirectamente, isto poderá, a seu tempo, vir a afastar o turismo! Que interessa ir para um país com paisagens todas queimadas?... Só quando virem a extensão dos incêndios um pouco maior... é que poderá ser tarde demais. Além disso, se fosse realmente preoucpação do Governo já há muito que teriam tomado as medidas certas. Mas o sistema político está tão enredado em lobbies, corrupções, interesses próprios que isto um dia vai estourar. Espero é que haja alguém que tome consciência disto e tome as medidas certas! Como nos falta alguém que possa fazer isso! Espero que haja alguém com esse carisma e coragem! Tem de haver!

 
At August 26, 2005, Blogger Cristina Costa said...

É triste esta realidade :(

Também quero que estejas enganada.


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Também não simpatizo lá muito com Miguel Sousa Tavares, mas do livro, com a excepção das interferências de língua inglesa que estragam qualquer tradução, gostei muito.

 
At August 26, 2005, Anonymous Anonymous said...

É triste, “to realize” que vivemos no país do "amanhã, logo se faz", do eterno adiar das decisões. Em 2003, nos meses de Julho e Agosto o país quase ardeu por completo, este ano acabou-se com o resto. Muitas promessas foram feitas, mas mantiveram-se os comportamentos. Quem poderia fazer algo permanece tal como Nero do alto no seu palácio a ver Roma a arder e a chorar as vítimas. Não estás a vaticinar a decadência, estás apenas a constatar que vivemos num país que não tem quem se preocupe ou tão pouco dê importância aos únicos bens que temos. Somos e sempre seremos (para nossa desgraça) um país de brandos costumes. Também não sou pessimista, mas em alguns momentos parece tudo irreal.

Quanto ao Miguel, já gostei mais dele, mas ler o livro não foi um deleite. Será que fui apenas eu a encontrar demasiadas coincidências entre o comportamento da personagem principal com o diletantismo do Carlos da Maia.

 
At August 27, 2005, Anonymous Anonymous said...

Infelizmente, há realmente uma indústria dos incêndios no nosso país!! E depois noticiam que só 20% dos incêndios têm origem criminosa! É mesmo "atirar areia para os olhos das pessoas", não acham? Coitados daqueles que perdem a vida, ficam desalojados ou sem meios de subsistência. Se os sucessivos governos tivessem interesse em resolver o problema dos incêndios, já o teriam feito, a começar na prevenção!!

 
At August 29, 2005, Blogger Carla Motah said...

Miha: Claro que não foste só tu a encontrar paralelismos entre o carlos da maia e o José Bernardo, mas, no fundo, pode ver-se como uma reinterpretação da personagem. Quando acabei o o livro de M.S.T. (no Verão de 2003) fiz questão de reler os Maias porque de facto sou uma fã do século XIX em portugal, em inglaterra, na Rússia ou em qualquer outro lado e o Equador fez-me lembrar alguns aspectos do livro do Eça. Claro que o dito não tem nada a ver com as calças, mas continuo na minha: gostei muito de ler o romance do irritante do M.S.T.
Qunto aos fogos,(isso é que é escrever jma) esperemos que tudo arrefeça...
Beijos a todos.

 
At August 29, 2005, Blogger Carla Motah said...

Ah, já agora, ouçam a melhor do nosso ministro António Costa: "Os incêndios deste ano são de facto terríveis...mas os do ano passado foram piores..."
Haja paciência!
Os Gatos Fedorentos já terão mais um incentivo para um sketch...

 

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