Uma ida a qualquer Repartição de Finanças reveste-se normalmente de uma incontornável dualidade: por um lado, o sacrifício de estar à espera e de ter de lidar com "alguma" incompetência; por outro, a comicidade de várias situações que decorrem do contacto humano em situação de stresse e da observação dos contribuintes enquanto se espera.
Chego à Repartição às 15.30, numa clara repetição da táctica que utilizo para ir aos Correios (meia hora antes de fechar não poderá significar "grande seca"), retiro a senha de atendimento e deparo-me com a enorme clivagem entre o meu número e o número da pessoa que está a ser atentida. Como que lendo (ou pensando que lê) os meus pensamentos, um senhor idoso comenta, junto ao meu ombro:
_ 23? Eh pá, ainda vai ter que esperar muito!...Mas olhe, não saia porque eles fecham-lhe a porta!
Agradeço, algo preocupada, pois não tenho a mínima vontade de ficar ali especada à espera. Resolvo então dirigir-me a outro balcão para tratar de outro assunto. E novamente o senhor simpático:
_ Ó menina, não saia...
_ Não, eu vou só ali actualizar a morada no Cartão de Contribuinte. (Mas por que razão me estou a justificar?- pergunto-me)
_ Ah, então está bem. (Como quem diz: "Se vai seguir o meu conselho, pode ir!")
Trato do cartão no edifício ao lado (tento fazê-lo sem o simpático idoso me ver sair), e, PÂNICO!, são 16.05, já não me deixam entrar.
Olho desolada para a já amarrotada senha número 23.
De repente, eis que a funcionária que acaba de me atender parece ler os meus pensamentos e remata:
_ Vá depressa, porque, tendo a senha, ainda a atendem.
Agradeço e lá vou eu em nova correria para o edifício ao lado. Continua a confusão, já não vejo o meu amigo e ainda vejo o casal que está a tentar resolver o problema da morada. Sento-me numa cadeira em estado duvidoso, olho para o ecrã e fico um pouco desesperada: só passaram 5 números...
De súbito, a funcionária começa a carregar furiosamente no botão e, à falta de resposta, vai avançando até que, imagine-se, chama o 23.
Levanto-me de rompante, com alguma pena por não ver como vai acabar a cena do casal e da morada que ninguém encontra, e trato do meu assunto. Preparo-me para pagar a multa que esperava quando a funcionária diz:
-Multa? Mas, está tudo em ordem. Tinha ainda uns dias para fazer o pedido!!
Conclusão, a ida às Finanças foi tudo menos traumatizante: deparei-me com duas pessoas simpáticas, consegui reentrar no edifício após as 16 horas(Uau), perdi apenas 40 minutos e , melhor ainda, poupei 50 euros. Para festejar e gastar o que não gastei na multa, guess what, fui comprar as botas.